O «pantanal»<br>um charco capitalista (1)
Na fase actual que Portugal atravessa, cruzada por intrigas, cumplicidades, fraudes e promessas vãs, há novos dados que merecem a maior atenção. São vozes que começam a reclamar mudanças profundas e ruptura com as políticas do Estado, em terrenos que giram já em alucinante parafuso de desintegração. Há um lodoso pântano a formar-se sob os nossos pés.
Vozes que vêm de sectores inesperados como, por exemplo, o da própria Justiça, uma área que tem sido impunemente reveladora de escandalosas corrupções. Sugerem uma reacção à ideia generalizada de que tudo se compra e vende, desde que dê lucro. Mesmo a nacionalidade. E, sobretudo, os direitos e a própria vida do povo explorado e dos trabalhadores.
Assim, há potencialidades que começam a emergir. Se acertarem o passo numa mesma atitude de firme resistência ética e política, serão perfeitamente capazes de virar o rumo dos acontecimentos e de impor ao grande capital respeito pelos valores básicos de uma verdadeira sociedade livre e democrática: o homem, o trabalho, a família, os direitos humanos, a economia produtiva, a justa distribuição da riqueza e o acatamento total dos princípios da justiça social. Há que dar força e consistência a este regresso salutar às raízes profundas do nosso passado colectivo. E, simultaneamente, rompermos com a carga negativa do passado.
«Agir, informar e propor definindo metas» é uma pedagogia simples mas revolucionária cujos créditos populares também vão crescendo. Todas as decisões de base de unidade de classe e de acção passam pela via única da denúncia, da ruptura e da proposta de mudança.
Falar com desassombro e com verdade é exigência da própria Revolução.
Simples «pedradas no charco»
No iniciar deste ano de 2011, citar-se o caso português isolando-o do mar de lama em que navega o capitalismo mundial seria falsear deliberadamente a verdade. O comportamento dos governantes (portugueses e outros) segue um figurino único e obedece às orientações de várias centrais federadas em «mercados». Ditam as modas e vestem-se a rigor. Os estados ricos, compram as dívidas dos estados pobres; por toda a parte aumentam os números do desemprego, do custo de vida e da pauperização de estratos cada vez mais alargados das populações; diminuem, inversamente, os investimentos públicos na saúde, no ensino, nas reformas estruturais, na cultura, nos apoios à produção, nos serviços sociais, etc.; crescem em flecha os resultados negativos manifestados pela banca mundial a qual, entretanto, se mantém próspera graças ao desvio para as instituições privadas do dinheiro pago ao Estado pelos contribuintes. Lá, como cá!
De tudo isto resulta que a distribuição da riqueza pelas várias camadas sociais acusa cada vez maiores desníveis. Como sempre, os ricos devoram os pobres mas a ementa cresce agora com a destruição sistemática da malha das pequenas e médias empresas levadas à ruína pelas políticas de crédito geridas no interesse dos mais ricos; ou com a destruição sistemática da rede de pequenas poupanças convertidas em acções das multinacionais e desvalorizadas nas operações especulativas das bolsas de valores. Daqui resulta que o índice das fortunas cresce lentamente enquanto sobe o da formação dos grupos desclassificados da média burguesia atirados para uma mediania a rondar a pobreza e o dos pedintes expulsos dos cenários financeiros pelas práticas económicas do capitalismo.
Neste mundo talhado à sua medida pelo grande capital, que papel desempenham as grandes religiões, nomeadamente a que a Igreja católica representa? Exigem-se aqui respostas directas e frontais!
A Igreja católica não é uma entidade externa ao sistema capitalista. É parte dele. Possui ou domina redes financeiras mundiais, malhas de grandes empresas, monopólios, latifúndios, sistemas de saúde e de ensino, complexos industriais, químicos e farmacêuticos, construtoras de armamentos e telecomunicações, etc., etc. Comanda nas bolsas e nos mercados. Passa de escândalo em escândalo financeiro. Coordena nas suas universidades os projectos das grandes operações capitalistas que levam à miséria centenas de milhares de famílias.
Tão grande é a confusão assim estabelecida que é difícil dizer-se liminarmente que a actual crise mundial apenas resulta do esmagamento da economia pelos interesses puramente financeiros. Ou se ela consiste, apenas, numa jogada calculista das altas finanças mundiais. Ou, ainda, se todos esses factores estão conjuntamente presentes nesta crise.
Tentaremos participar nesta aventura da informação.